10/05/2020
3 ESCRITORAS AFRICANAS QUE RETRATAM A MATERNIDADE
Nesse Dia das Mães, vim indicar para vocês três leituras que nos fazem refletir sobre a maternidade sob ótica um pouco diferente da que estamos acostumados a ver. A maternidade é, geralmente, bastante idealizada, diria até que romantizada, por muitas pessoas e parece que, muitas vezes, quando uma mulher reclama das dificuldades enfrentadas no dia-a-dia em relação a esse assunto, encaram-na como uma "mal agradecida", "reclamona" ou - a expressão que tenho mais nojo na atualidade - que "está de mimimi".
Ignorando essas opiniões que de nada acrescentam, penso que gosto de encarar o assunto como minha mãe me ensinou a lidar com a vida: com amor, força e olhar reflexivo. Creio que as mães de hoje - que não são somente mães, mas mulheres, esposas, namoradas, solteiras, trabalhadoras, donas de casa, amigas, conselheiras, filhas e todos os outros papéis que cabem a nós, mulheres - são muito guerreiras pois enfrentar toda a cobrança que a nossa sociedade já faz com as mulheres é bem difícil. Lidar com as cobranças de serem mães (ou ainda, com o fato de escolher não ser mãe) também é difícil.
Então, escolhi essas três leituras, todas de escritoras africanas, que não idealizam de forma alguma a maternidade, mas trazem boas reflexões para nossos dias.
As alegrias da maternidade - Buchi Emecheta
Esse livro foi publicado pela primeira vez em 1979, mas no
Brasil lançado somente em 2017. Ao contrário do que podemos entender pelo
título, As alegrias da maternidade é um livro que não vai falar sobre alegrias.
A maternidade abordada pela escritora Buchi Emecheta está muito distante de um
conceito de maternidade idealizada. Nessa obra, vamos nos deparar com a vida
difícil de Nnu Ego, nascida no interior da Nigéria e enviada para a capital
para se casar com um homem (que não conhece) e com a obrigação de ter filhos.
Determinada a realizar o sonho de ser mãe e, assim,
tornar-se uma “mulher completa”, submete-se a condições de vida precárias e
enfrenta praticamente sozinha a tarefa de educar os filhos. Entre a lavoura e a
cidade, entre as tradições dos igbos e a influência dos colonizadores, ela luta
pela integridade da família e pela manutenção dos valores de seu povo.
Para quem me acompanha nas redes sociais, já viu que costumo
indicar os livros da Chimamanda Ngozi Adichie. Ela me chamou a atenção com Sejamos
todos feministas (leiam!) e, a partir dessa leitura, quero ler tudo o que ela escreve!
Em Para educar crianças feministas, a autora retoma o tema
da igualdade de gêneros nesta obra que pode ser considerada um manifesto, onde
encontramos quinze sugestões de como criar filhos dentro de uma perspectiva
feminista.
O livro foi escrito no formato de uma carta de Chimamanda a
uma amiga que se tornara mãe de uma menina. A escritora trazendo conselhos
simples e precisos de como oferecer uma formação igualitária a todas as
crianças, iniciando pela justa distribuição de tarefas entre pais e mães (esse assunto é tão polêmico, em muitos lares ainda!).
Gosto muito da escrita de Chimamanda pois ela parte de sua
experiência pessoal e nos mostra o extenso caminho que ainda precisamos
percorrer neste mundo e contribuir para uma sociedade mais justa. Recomendo essa
leitura para mães, pais, homens, mulheres... pra todo o mundo!
Li no ano passado Canção de ninar, da escritora marroquina
Leïla Slimani e gostei muito de sua narrativa fluida e surpreendente. Em 2016, a
escritora foi premiada com o Prêmio Goncourt por este romance – ela foi a
primeira escritora de origem marroquina a ganhar esse prêmio literário francês –
e fiquei muito curiosa para conhecer o seu trabalho quando ela veio à FLIP em
2018.
Esse thriller psicológico vai retratar a vida de Myriam, mãe
de duas crianças pequenas, que decide voltar a trabalhar em um escritório de
advocacia. O casal inicia uma seleção rigorosa em busca da babá perfeita e fica
encantado ao encontrar Louise: discreta, educada e dedicada, ela se dá bem com
as crianças, mantém a casa sempre limpa e não reclama quando precisa ficar até
tarde. Aos poucos, no entanto, a relação de dependência mútua entre a família e
Louise dá origem a pequenas frustrações – até o dia em que ocorre uma tragédia.
O livro Canção de Ninar também traz algumas questões bem interessantes
sobre maternidade nos dias de hoje. Traz algumas questões sobre o papel da
mulher na sociedade, as cobranças envolvendo a maternidade e preconceitos entre
classe e cultura.
Você já leu algum desses livros? Conta para mim o que você achou e quais livros que tratam da maternidade de um jeito mais real ou não idealizado você já leu.
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